Sandra de Sá - Soul de Verão
Entrevista com Sandra de Sá na íntegra feita para o Jornal Copacabana:
São 30 anos de carreira e um novo CD, autoral: AfricaNatividade. Considerada a rainha do Soul brasileiro, ela lançou o termo MPB - Música Preta Brasileira. Eternizada pelos sucessos "Joga Fora (No Lixo)", "Olhos Coloridos", "Solidão", entre outros, Sandra de Sá é moradora de Copacabana e adora o bairro. Além de AfricaNatividade, Sandra participa dos projetos Música Preta Brasileira, Bossa Samba Soul Jazz e Apresentação Internacional, fazendo shows em todo Brasil e exterior. Confira a entrevista com a cantora.
Jornal Copacabana: Você nasceu em Pilares, no subúrbio do Rio, em uma família de músicos. Ainda menina começou a tocar violão e compor músicas de maneira autodidata. Sempre soube que queria ser cantora?
Sandra de Sá: Na verdade eu queria ser psicóloga! Na minha família eram todos músicos, por isso, o fato de tocar e cantar foi muito natural para mim. Aquele ambiente era natural, eu não achava nada demais... Apenas natural.
J.C.: Então você, realmente, acabou entrando na faculdade de psicologia. Mesmo sendo bem diferente da carreira de cantora...
S.S: Que nada! Não vejo fronteiras. Psicologia tem tudo a ver com música, com cantar, compor... Sempre me interessei pelo ser humano que é louco e lúcido, gosto de conhecer as pessoas... O ser humano é demais! Por isso, agora tenho vontade de fazer antropologia, que engloba as relações sociais, a psicologia, a geologia... Sempre digo que limitar é humilhar o infinito! (risos).
Quando descobri que fazer música, já estava nela!
J.C.: E são 30 anos de carreira, mas são 33 compondo, uma vez que teve sua primeira composição Morenando gravada por Leci Brandão em 1977.
S.S: Não sei se foi 77 ou 78... Achei um barato quando vi que “tia” Leci tinha gravado uma música minha! Fiquei emocionada. Me deu uma coisa diferente quando ouvi na rádio, um “gostoso turbulêntico”. (risos).
J.C.: Finalmente em 1980, você foi apresentada ao público brasileiro no Festival da Canção, da Rede Globo, com a música Demônio Colorido, que acabou dando nome ao seu primeiro LP. Nem ali você pensou que seguiria a carreira?
S.S: Foi incrível, no Maracanãzinho! O Português, que sempre foi o cara que cuida do palco da Globo, me empurrou para entrar... Era tanto barulho! 15000 pessoas... E eu achando que não era minha vez de entrar! (risos). Não consegui ouvir quando me anunciaram. O povo gritava! Lembro até que desafinei para tentar entrar no tom do público e cantar com ele. (risos).
O festival foi em maio, em agosto tive as provas da faculdade e já estava fazendo shows. Demorei a entender que eu era cantora... Só percebi quando já estava com três anos de carreira. Aí sim percebi a batalha, o meio, a luta. Vi, naquele momento, que sempre quis isso. Por isso digo que tenho 30 anos de carreira e 27 de profissional. Acredito na “causalidade”! O importante é ter fé, acreditar. A energia “lá de cima” é a mais importante. Adoro número impar! Esse aniversário de carreira é o 3! Sorte!
J.C.: Lançou o CD AfricaNatividade – Cheiro de Brasil, para comemorar os 30 anos de carreira. Como você canta (na música Olhos Coloridos de composição do Macau, que você está produzindo o CD): “todo brasileiro tem sangue crioulo”. Sendo neta de caboverdiano e tendo participado de projetos como o Quilombola, qual a importância desse novo trabalho na sua carreira?
S.S: Acredito na “Criolebisidade”. Sempre tive orgulho das minhas origens, me interesso por filmes, novelas que mostram os negros, os escravos que vieram da África. Sempre senti essa ligação. Por isso me identifiquei muito com Olhos Coloridos, acho que por isso ela faz sucesso até hoje.
O AfricaNatividade, na verdade, vinha sendo feito há alguns anos. Acabou ficando pronto esse ano, justamente quando comemoro os 30 anos de carreira. E foi um presente grato porque eu estou adorando. (risos). Outra surpresa boa foi quando percebi que acabou sendo um CD autoral. AfricaNatividade é meu, da Adriana Milagras, minha produtora que acreditou no projeto, da banda, da galera que tocou comigo, meus convidados, todos que tocaram e acreditaram.
Passei por muitos Quilombos, são 2000 registrados. Vendo tudo isso, vi minha história. Foi muito emocionante! Por isso bato tanto na tecla da “Música Preta Brasileira”: é esse suingue que o brasileiro tem, mesmo sem querer... Nós pegamos músicas de outros países e fazemos muito melhor. Aqui temos um suingue africano misturado com indígena... Deu um “negócio” bom! (risos). Aqui, tudo começa e termina no tambor!
O projeto ÁfricaNatividade é mais do que o CD, terá um documental também onde vou para os quilombos conhecer os caras, saber os que tocam, tocar com eles, ou eles abrirem o show e, depois, comemorar com eles aquela festa que vai ter acontecido. Serão cinco quilombos e vou precisar de uns três dias em cada um deles. A idéia é trazer africanos para trocarem essa experiência e levar quilombolas para a África (Moçambique, Cabo Verde e Angola) para completar o documental. Quero mostrar a herança e fazer o intercâmbio entre os povos.
O CD da “causalidade”: AfricaNatividade.
J.C.: Há uma curiosidade na sua carreira: é verdade que a Fafy Siqueira era quem inscrevia você para os festivais que acabaram rendendo inúmeros prêmios de compositora e cantora?
S.S: Eu queria estudar para a faculdade, que estava terminando. Era uma gang: Fafy, Joana, Olavo Sargentelli... E ela me colocava em todos os concursos possíveis! Ela foi um anjo da guarda! Não queria saber, ia lá, me inscrevia e falava: agora você tem que ir, já te inscrevi. (risos).
J.C.: Você andou se aventurando como atriz em seriados, teatro e até no cinema, em Antônia. Pensa em voltar a exercer essa profissão, a exemplo do seu filho?
S.S: Me chama que eu vou... Gostei desse “lance”! Tomara que me convidem mais... Gostei.
J.C: Vamos falar de paixões. Além da música que se tornou uma paixão, e do Flamengo, quais são suas paixões?
S.S: Minha família! Família e amigos. Meu filho. A família de sangue e a família da vida, dou muito valor às duas. Sou uma apaixonada por pessoas.
J.C.: Você nasceu em Pilares e hoje mora em Copacabana. Qual era o seu conhecimento sobre Copacabana?
S.S: Sempre fui meio aérea... Não me ligava muito. Tia Isaura trabalhava no Flamengo, que tinha aqueles casarões... Minha mãe lavava roupa em Copacabana e vínhamos passear no bairro. Quando comecei a trabalhar, tudo era por aqui, morei no Leblon... Mas estou sempre em Pilares (risos).
Copacabana é o centro da Terra! Tem uma música sobre o bairro no meu CD que diz bem o que acho de Copacabana. Copa tem de tudo! Observo muito tudo em Copacabana. Gosto de “rodar” pela praia, o Bairro Peixoto é ótimo! Parece uma cidadezinha... Fico sempre de olho para me mudar para lá.
J.C.: Sua agenda está cheia até dezembro com shows dos projetos que faz parte. Quando o público voltará a assistir AfricaNatividade?
S.S: Fiz o show em maio no Canecão e agora estou fechando para agosto. Vai ser demais! É meu aniversário, então vai ser uma grande festa! Digo que vou fazer 85 anos: 55 de idade e 30 de carreira, bem vividos! Assim que puder eu divulgo para os leitores do Jornal Copacabana.
J.C.: Deixe seu recado para os leitores do Copacabana.
S.S: Pô! Sei lá! (rios). Muita fé e muita luz para todos para fazermos uma vida digna!
--------------------------------------------Fonte: Jornal Copacabana.
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