Afoxé Filhos de Gandhi, 62 Anos!
Por: Fernando Monteiro
Domingo, janeiro, verão, Bahia. Centro histórico de Salvador, Pelourinho. Grande movimentação na Sede do Afoxé Filhos de Gandhy. Primeiro ensaio do ano. Em volta, associados; velhos, jovens de toda cor, turistas curiosos e encantados. Se olharmos melhor veremos as artesãs ou turbanteiras, mulheres que fazem o turbante na cabeça dos Filhos de Gandhy. Veremos famílias inteiras que tem no sangue este grande símbolo da nossa terra. Pessoas que vivem em função do Gandhy. As tranças estilo rastafári fazem referência a paz e a negritude. Por sinal, a cultura negra é o grande tom de toda essa mágica em volta.
Alguém joga milho branco pela porta da Sede, é sinal de que vai começar.
As pessoas se espremem para ver o que vai acontecer. Três, quatro rapazes chegam com pratos, oferendas. Vai começar o Padê pra Exu.
Os atabaques começam a tocar, agogôs e chocalhos acompanham, uma voz surge em meio a ao som inebriante do ijexá. São cânticos de louvor. Logo em diante, dezenas, centenas de vozes respondem ao canto e cantam juntos em plena comunidade daquele ritual. Turistas boquiabertos, transeuntes, policiais, vendedores, todos param pra ver. O cineasta americano filma. O corpo arrepia diante de tanto axé.
Os rapazes que trouxeram as oferendas dançam em torno, giram, cantam, as pessoas em volta estão cada vez mais entusiasmadas como numa espécie de transe coletivo e respondem de maneira mais efusiva e tudo aquilo vai crescendo, crescendo... Alguns dos que estavam dançando saem da Sede e as oferendas são oferecidas no Largo.
Afoxé Filhos de Gandhy, 62 anos de história. O 1º ensaio do ano lotado com pessoas de vários cantos do mundo. A “gringa” loura com tranças, balança ao som dos atabaques aos olhares desejosos. O diretor que mora nos Estados Unidos e que não perde o verão da Bahia, todos cumprimentam, simpático que é. Etnomusicólogos, sociólogos, antropólogos, artistas todos querem compreender, muito mais do que isso, querem viver este momento. Pessoas comum, donas Marias, Joãos, Josés... vendedores de picolé, artesãs, sapateiros, pessoas simples dessa Bahia desigual, ali estão sem distinção de camarotes, sem distinção de classes sociais, lado a lado com qualquer outra pessoa, afinal todos de fato são iguais ali. Filhos de Gandhy preserva esta simbologia importante seja no seu desfile nos dias de carnaval, seja no dia a dia como no Ensaio, onde nos mínimos detalhes vemos a irmandade, principal força e que faz com que este gigante se levante a cada ano e desse modo, em 2011, comemore 62 anos de carnaval da Bahia.
Vida longa ao Afoxé Filhos de Gandhy, minha nação!
Um comentário:
Raro as pessoas que buscam a história atrás da folia e é um prazer se deparar com seu cantinho...
Parabéns!!!
Lilian Cristina Marcon
Postar um comentário