Sabemos que a música baiana, oriunda do carnaval de Salvador, não se distancia muito da música brasileira. Muito pelo contrário. Embora haja uma mistura de ritmos provenientes de outros países (maioria provenientes do continente africano) que influenciaram a nossa música, a história da música baiana se remonta desde a década de 30 quando o cantor e compositor Dorival Caymmi criou um conjunto musical para as festas de rua e suas apresentações nas rádios despertavam as primeiras "sementes" do que viria a ser o futuro carnaval de Salvador. Este grupo se chamava Três e Meio e era formado Alberto Costa, Zezinho Rodrigues, Adolfo Nascimento (Dodô) e do próprio Caymmi que viria a sair pouco depois. Após reformulação no grupo com novos integrantes, um músico viria a completar a formação e dar um novo passo para a música baiana e formar parceria com Dodô: Osmar Macedo.
A "Dupla Elétrica" Dodô e Osmar sempre eram abertos a novas experimentações nos instrumentos musicais para apresentação de seus shows e, em uma delas, veio a criação da guitarra baiana (ou pau elétrico) que viria a ganhar novos adeptos ao instrumento como Armandinho Macedo, Missinho e Johnny (ex-guitarristas da banda Chiclete Com Banana), Pepeu Gomes, Luiz Caldas entre outros. Mas sua grande contribuição viria em 1950 com a criação da fobica (montagem de um Ford 1929 com decorações e alto-falantes instalados), onde se apresentaram na Praça Castro Alves, no carnaval de Salvador daquele ano. No ano seguinte, convidam o músico e amigo Temístocles Aragão para compor o chamado trio elétrico, denominação que ganharia fama nos anos seguintes e fazendo shows pela Bahia e outros estados, principalmente Pernambuco onde destacaria pelos frevos. Mais tarde, Armandinho Macedo, filho de Osmar Macedo ganha seu espaço no trio, formando assim o trio mais famoso da Bahia e do Brasil: Trio Elétrico Armandinho, Dodô e Osmar.
Em 1956, surge um outro importante grupo musical, liderado por Orlando Campos, que viria a ganhar um grande destaque no carnaval baiano: Tapajós. O grupo será o principal seguidor do Trio Elétrico Dodô e Osmar e dará sua grande contribuição, inovando nas estruturas da caminhonete do trio o que daria a base para os trios elétricos de hoje, bem como no lançamento de uma das maiores bandas baianas (para alguns, a maior) no início da década de 1980: Acordes Verdes, formada por Luiz Caldas (voz e guitarra), Carlinhos Marques (baixo), Alfredo Moura (teclados), Cesinha (bateria), Carlinhos Brown e Tony Mola (percussão). Tanto o Trio Elétrico Tapajós como o Trio Elétrico de Dodô e Osmar revezavam nas premiações como os mais importantes trios da Bahia e o carnaval vai ganhando seu destaque.
Em 1969, Caetano Veloso compõe a música "Atrás do Trio Elétrico" e passa a incentivar o carnaval de Salvador, pouco antes de partir para o exílio em Londres. Em 1972, o Trio Tapajós ousa na sua mais importante criação na história do carnaval baiano - o trio Caetanave - para homenagear o cantor na sua volta do exílio e compor um dos mais célebres discos da música baiana: Ave Caetano. O trio conseguiu reunir Caetano Veloso, Gal Costa e Gilberto Gil para se apresentarem na Praça Castro Alves. Em 1977, Caetano lança seu disco Muitos Carnavais, contendo algumas regravações e inéditas, onde boa parte de suas músicas ficariam eternizadas no carnaval baiano como "Chuva, Suor e Cerveja", "Um Frevo Novo", "A Filha da Chiquita Bacana", entre outros.
Ainda na década de 1970, surgem dois grupos: Novos Baianos (composto por Moraes Moreira, Pepeu Gomes, Baby Consuelo, Paulinho Boca de Cantor e Luiz Galvão), influenciados pelas mudanças na música baiana na época, apresentando-se em trio próprio. Junto a eles, estava a banda de apoio que logo viria a fazer sucesso em seguida - A Cor do Som (nome sugerido por Caetano Veloso) - formado por Armandinho, Mu Carvalho, Dadi, Gustavo e Ary Dias. Moraes Moreira daria suas contribuições para o carnaval baiano (inclusive compondo grandes sucessos para o Trio Elétrico Armandinho, Dodô e Osmar) como "Pombo Correio", "Vassourinha Elétrica", "Eu Sou o Carnaval", "Chão da Praça" e um dos clássicos do carnaval, "Chame Gente", entre outros sucessos. Surge em 1974, o primeiro bloco afro do Brasil - Ilê Aiyê - como desejo dos negros em buscar uma auto-afirmação cultural (resgate da herança africana) e com objetivo de preservar e valorizar a música e cultura afro-brasileira. Para o lançamento do bloco, apresentou a música "Ilê Ayê (Que Bloco É Esse?)", de Paulinho Camafeu, que veio a ser regravada por Gilberto Gil no disco Refavela.
Perto do fim da década de 1970, uma dupla de irmãos em Salvador cria o grupo Scorpius para animar festas e bailes no carnaval e formaturas: Bell Marques (voz, violão e guitarra) e Wadinho Marques (teclados). Com a entrada de novos integrantes como Missinho, Johnny, Rubinho, Renato, Waltinho, Deny e Rey, o grupo mudaria o nome para se tornar uma das maiores bandas baianas e do Brasil - Chiclete Com Banana - totalmente influenciado pelos frevos dos trios elétricos na época e se lançaria no carnaval de Salvador puxando o trio e bloco Traz os Montes (que também será nome do primeiro disco, em 1982). Após reformulação no elenco, destaque nacional em 1986 com o lançamento do sexto disco da carreira (Grito de Guerra) e passagem pelos blocos Traz a Massa e Internacionais, a banda chega ao bloco Camaleão (onde passaram nomes como Luiz Caldas, Sarajane e Cid Guerreiro) em 1989, onde ficaria até os dias atuais.
E na década de 1980, outros nomes surgiram na música baiana, bem como novas tendências musicais como o deboche (Luiz Caldas, Sarajane), samba-reggae (estilo criado por Neguinho do Samba da banda Olodum que teria como seguidores: Celso Bahia, Gerônimo, Banda Mel, Banda Reflexu's, Margareth Menezes e Daniela Mercury, entre outros), reggae (Edson Gomes, banda Terceiro Mundo, Lazzo), merengue e lambada (Missinho, Banda Beijo, Kaoma), e outras. No final da década de 1980, o publicitário e empresário baiano Nizan Guanaes, juntamente com a Agência DM9, cria um jingle que se torna uma das músicas mais executadas até hoje - "We Are the World of Carnaval" - onde reúne vários artistas do carnaval baiano no clipe como Daniela Mercury, Ricardo Chaves, Margareth Menezes, Durval Lelys (Asa de Águia) e outros. Em 1987 surge a expressão axé music, criada pelo jornalista do jornal "Correio da Bahia" Hagamenon Brito para designar e agregar os novos estilos e sonoridades, formando um rótulo comercial e que logo viria a se transformar num grande mercado de publicidade e produtos criados no carnaval baiano, ganhando fama nacional a partir do início da década de 1990 quando Daniela Mercury e a Timbalada (de C. Brown) surgem no cenário nacional.
Boa parte das músicas compostas e criadas na década de 1980 e 1990 foram também gravadas e interpretadas por grandes nomes da música brasileira como Caetano Veloso, Gal Costa, Maria Bethania, Beth Carvalho, Leci Brandão, Elba Ramalho, Amelinha, entre outros. A boa qualidade das músicas só veio a ser afetada com o surgimento do pagode baiano em meados da década de 1990 e com o forte crescimento do carnaval de Salvador, transformando os artistas e as músicas em produtos comerciais.
Junior Silva.
3 comentários:
muito boa colocação sobre a música na bahia
ATRAS DO TRIO ELETRICO DO CAETANO QUE FEZ A MUSICA DA BA EXPLODIR FORA DA ERA UM FREVO BAIANO MORAES FOI O PRIMEIRO A IR NO TRIO CANTANDO E INAUGUROU A ERA MODERNA DOS TRIOS BEBEU MUITO DA FONTE ORIGINAL DO FREVO O TRIO NASCEU PRA TOCAR FREVO E VC COMO TIPICO INVEJOSO DA BA OMITIU ISSO MESMO QUANDO O ARMANDINHO TOCA UNS FREVOS FODAS COM O PAU ELETRICO TIPO CHÃO DA PRAÇA NOS SOLOS VASSOURINHA ELETRICA ETC
ATE O CAETANO JA DISSE QUE O TRIO NASCEU PRO FREVO E VICE VERSA MESMO MUITO DEPOIS AINDA TINHA MUSICA BAIANA QUE PARECIA FREVO NO INICIO EM BANDAS DE AXÉ TIPO CHEIRO DE AMOR ETC A INTRO ERA CLARAMENTE UM FREVO QUANTO A MPB PROPRIAMENTE DITA SE TEM GAL CAETANO E BETANIA ICONES MORES
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