5 de dez. de 2012

Sobre Roberta Campos

Roberta Campos - Varrendo a Lua

Roberta Campos começou a sua carreira da mesma forma que muitos novos artistas o fazem hoje: postando vídeos no You Tube de composições próprias e de versões de outros autores nacionais. Foi assim que chamou a atenção de gente como Marcelo Camelo, Paulinho Moska e Leoni. E o hype só cresceu. Em 2010, com o lançamento de Varrendo a Lua, o seu segundo disco que trazia 10 músicas selecionadas de um repertório autoral de mais de 100 composições, ela apresentou com toda força a música que fazia: melódica, sincera, emocional, sem a necessidade de qualquer virtuose forjada que enaltecesse sentidos que afastam a canção do seu mote inicial de criação.

A impressão continua forte - e só cresce - quando tocamos a primeira faixa (-título) e também primeiro single do novo álbum da cantora, Diário de um Dia: “Deita do meu lado/Passo o feriado/Todo com você”. Com produção de Rafael Ramos, Roberta conta no novo álbum com um time de músicos-ícones da MPB como o nada convencional Marcos Suzano (percussão), Dunga (baixo), Davi Moraes (guitarras) e Humberto Barros (teclados), além dos vibrantes arranjos de cordas do mestre Licoln Olivetti. O resultado é vivo, ao mesmo tempo pulsante e delicado, um tipo de som raro em discos nacionais recentes, que privilegiaram por tempo demais o lo-fi e o eletrônico.

Se no álbum anterior, Roberta conquistou um dueto com Nando Reis com a beleza melódica, simples e arrepiante de “De Janeiro a Janeiro”, a lista de novos parceiros cresce de forma impressionante no novo álbum. Paulinho Moska compôs o presente “Meu Nome é Saudade de Você”, após observar o primeiro e doloroso rompimento de namoro do seu filho adolescente, e ainda colabora com delicados violões e vocais na música. Moska também contribui nos violões de “Sete Dias”, composição de Roberta Campos com Danilo Oliveira e trilha da novela Amor Eterno Amor, da Rede Globo.

Zélia Duncan compôs com Leoni a celebração de vida chamada “Quem Nos Dera” e Roberta reclama a música para si, como sempre em suas versões, e cai na estrada, vento no rosto: “Fantasia/Me visto, invento o bloco na avenida/Meu dia é hoje, a vida é todo dia/Num calendário de alegrias”. “Carne da Boca”, parceria de Frejat com Guto Goffi e Mauro Santa Cecília, revela, por sua vez, uma cantora voraz pontuada pelo lap steel e pelo mandolim de Christiaan Oyens. O músico aparece novamente com o seu slide marcante na levada blues da potente “E Eu Fico”, uma das poucas composições de Roberta anteriores ao disco Varrendo a Lua.

De uma forma geral, Diário de um Dia foi criado no período em que a cantora estava na turnê do seu trabalho anterior, o que revela um notável amadurecimento nas suas composições. “A Sua Volta” transmite uma delicadeza contida ímpar, apoiada pelo uso de poucos instrumentos (percussão, baixo e teclados apenas). “Rio Sem Água” é grandiosa e identifica logo a evolução do refinamento pop de Roberta em suas composições. Também traz o Mellotron, um instrumento ainda pouco usado em álbuns nacionais e que está presente em diversas faixas do disco. Inclusive na bela “Pedaço do Céu”, um lembrete das origens mineiras de Roberta e do quanto o Clube da Esquina foi importante na sua formação musical.

Em tempos em que truques de estúdio podem ser valorizados acima da capacidade de criar grandes canções antes mesmo de qualquer produção, Roberta Campos faz parte de um pequeno grupo de cantoras e compositoras cujo propósito lírico é a comunicação da emoção. Se não a mais nobre, ao menos a mais universal das causas. Talvez por isso mesmo, Diário de um Dia conquiste qualquer um que lhe dedique alguns minutos no aconchego a que convida.
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Fonte: My Space. Texto de Fábio Silveira. Maio de 2012.

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