24 de jul. de 2014

MPB Instrumental: Américo Jacomino (Canhoto)


Canhoto - Abismo de Rosas


Nascido em São Paulo, em 12 de fevereiro de 1889, Américo Jacomino cresceu num ambiente bastante cosmopolita. Filho de imigrantes italianos, Jacomino começou a tocar violão influenciado por seu irmão mais velho, Ernesto, que também lhe deu aulas de bandolim. Américo recebeu o apelido que o deixaria célebre, Canhoto, por tocar violão com a mão esquerda sem inverter as cordas do instrumento. Em 1912 Américo Jacomino começou a gravar pela Odeon em São Paulo e Rio de Janeiro, tocando violão solo ou com seu Grupo do Canhoto, um tipo de grupo seresteiro. Em 1916 ele debutou no Conservatório Dramático e Musical de São Paulo, recebendo a primeira aclamação de público e crítica.

Junto ao violonista paraguaio Agustín Barrios e da espanhola Josefina Robledo, Jacomino foi a figura definitiva nos primeiros passos para o estabelecimento do violão nos currículos da sociedade cultural Brasileira, principalmente em São Paulo e Rio de Janeiro. Na década de 1920 Jacomino compôs muitas canções carnavalescas e peças para violão que foram impressas em partitura para piano, provavelmente pela falta de violonistas que sabiam ler partituras no Brasil.

Em 1926, Jacomino realizou suas mais importantes gravações, incluindo "Abismo de Rosas" e "Marcha Triunfal Brasileira". No primeiro concurso musical em que o violão tomou parte no Brasil, intitulado "O Que É Nosso", realizado no Rio de Janeiro, Jacomino recebeu o principal prêmio, sendo então chamado "O Rei do Violão Brasileiro" pela imprensa. Américo Jacomino morreu no dia 7 de setembro (dia da Independência do Brasil) de 1928, aos 39 anos de idade, em São Paulo. 

Américo Jacomino foi um tipo de músico popular com gosto romântico. Ele não sabia ler música e sua maior influência foram as canções populares italianas que escutava em casa durante a infância. O violão para ele era como uma orquestra ou banda marcial, repleta de tímbres diferentes a serem explorados. Sua carreira como violonista era a razão principal de sua existência, assim como o amor à pátria. As gravações de Américo Jacomino (mais de 90) podem ser colocadas entre as mais significativas do começo das gravações do gênero, lembrando que ele morreu apenas um ano após as primeiras gravações de Andrés Segóvia para a RCA. Os títulos das composições são bastante sugestivos: "Abismo de Rosas", "Marcha Triunfal Brasileira", "Delírios", "Marcha dos Marinheiros""Alvorada de Estrelas", "A Menina do Sorisso Triste", "Guitarra de Mi Tierra", "Tempo Antigo", etc...refletindo um tipo de influência que perduraria por décadas no Brasil, infelizmente sendo esquecida ou ignorada por recentes gerações de violonistas brasileiros da época mais romântica da nossa história.
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Fonte: Gilson Antunes (instrumentista, arranjador, compositor, musicólogo).

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