Cartola - As Rosas Não Falam
Vendo o jardim de sua pequena casa no morro da Mangueira cheio de rosas pela primeira vez, Eusébia Silva do Nascimento, a dona Zica, não conseguiu conter a surpresa e chamou o marido: “Cartola, vem ver! Por que é que nasceu tanta rosa assim?”. A resposta foi simples: “Não sei, Zica. As rosas não falam...”. Estava criada a idéia para aquela que se tornaria a música mais famosa de Agenor de Oliveira, o Cartola (1908-1980), que contém estes famosos versos: “Queixo-me às rosas/ Mas que bobagem/ As rosas não falam/ Simplesmente as rosas exalam/ O perfume que roubam de ti”.
Cartola tinha só o terceiro ano primário e fez de tudo um pouco em seus 72 anos de vida, sem nunca ter deixado o violão. Foi pintor de paredes, lavador de carros, estivador, camelô, gráfico, vigia e pedreiro. Desta última, uma de suas primeiras profissões, herdou o apelido com o qual ficaria conhecido na música por usar um chapéu-coco para se proteger do pó de cimento nas construções onde trabalhava.
Mesmo reverenciado por nomes como Villa-Lobos e Carlos Drummond de Andrade, e cantado por Francisco Alves, Carmen Miranda e Elis Regina, Cartola só conseguiu realizar o sonho de gravar o próprio disco às vésperas de seu aniversário de 66 anos. "Mesmo depois da gravação, eu não acreditava. Precisei ter o disco na mão. Precisei ver ele sendo vendido nas lojas para acreditar. E me senti muito emocionado quando ouvi minha voz no disco. Eu já tinha até pensado que ia morrer sem gravar", confidenciou em 1974, ano do lançamento do LP Cartola pela gravadora Marcus Pereira.
"As Rosas não Falam" só apareceria dois anos depois, no segundo disco de Cartola, que trazia na capa uma foto dele e dona Zica na janela de casa. Ele com óculos escuros que cobriam quase todo o rosto, e ela com um lenço verde e rosa na cabeça. No álbum, Cartola estava acompanhado de alguns dos melhores músicos de sua época, entre os quais o cavaquinista Canhoto e o flautista Altamiro Carrilho. O disco teve produção impecável do jornalista e escritor Juarez Barroso.
O sucesso foi imediato. "As Rosas não Falam" virou trilha de novela da Rede Globo. Os jornais incensaram a genialidade das composições de Cartola, que tinha criado pelo menos duas músicas definitivas na história da canção brasileira. Além de As Rosas..., O Mundo É Um Moinho. “A audição de As Rosas não Falam deixou-me absolutamente sem condições [de analisar objetivamente o LP de 1976], Sinto-me totalmente embriagado com o perfume que exala a arte de Cartola”, disse o crítico Ary Vasconcelos, que escrevia para o jornal Última Hora.
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Fonte: Revista Bravo - 100 Canções Essenciais da Música Popular Brasileira
Colaboração: Fabio Eça.
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