13 de out. de 2009

Foi um Rio Que Passou na Minha Vida


Paulinho da Viola - Foi um Rio Que Passou na Minha Vida


Se um dia
Meu coração for consultado
Para saber se andou errado
Será difícil negar
Meu coração tem mania de amor
Amor não é fácil de achar
A marca dos meus desenganos ficou, ficou
Só um amor pode apagar
A marca dos meus desenganos ficou, ficou
Só um amor pode apagar...

Porém! Ai porém!
Há um caso diferente
Que marcou num breve tempo
Meu coração para sempre
Era dia de Carnaval
Carregava uma tristeza
Não pensava em novo amor
Quando alguém que não me lembro anunciou:
"Portela!", "Portela!"
O samba trazendo alvorada
Meu coração conquistou...

Ah! Minha Portela!
Quando vi você passar
Senti meu coração apressado
Todo o meu corpo tomado
Minha alegria voltar
Não posso definir aquele azul
Não era do céu
Nem era do mar
Foi um rio que passou em minha vida
E meu coração se deixou levar
Foi um rio que passou em minha vida
E meu coração se deixou levar...
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Para entender a importância e o sucesso de "Foi um Rio que Passou em Minha Vida", de 1970, é preciso voltar no tempo, para dois anos antes de seu lançamento. O poeta Hermínio Bello de Carvalho escrevia seu amor à verde-rosa nos versos de "Sei lá, Mangueira", quando o portelense Paulinho da Viola, gostando da letra, compôs uma melodia para ela. A música foi inscrita por Hermínio no 4º Festival de MPB da TV Record, de 1968. Paulinho não gostou da idéia; a diretoria da Portela, menos ainda.

Depois de irritar os portelenses mais fanáticos, o compositor acabou se redimindo com sua escola de coração ao lançar "Foi um Rio que Passou em Minha Vida", um dos maiores sucessos de sua carreira. Embora jamais tenha feito a Portela sair na Marquês de Sapucaí, a estrutura dessa canção em muito se aproxima dos sambas-enredo. A própria forma dos versos, em sua simplicidade e suas rimas, mostra isso: "Ah, minha Portela/ Quando vi você passar/ Senti o meu coração apressado/ Todo o meu corpo tomado/ Minha alegria voltar/ Não posso definir aquele azul/ Não era do céu/ Nem era do Mar".

Mais do que um hino de exaltação à Portela, "Foi um Rio que Passou em Minha Vida" consolidou o nome de Paulinho da Viola no rol dos grandes compositores da música brasileira surgidos nos anos 60. Durante a década de 1970, atingiu seu auge produtivo, tanto em termos de qualidade como de quantidade. Isso sem falar no fato de ele ter garantido uma sobrevida ao samba, renovando-o no formato canção, com fortes traços autorais, sem no entanto deixar a herança dos mestres ao lado dos quais amadureceu.

O melhor Paulo César Faria que o Brasil teve se tornou Paulinho da Viola graças à Zé Kéti e a Sérgio Cabral, que acompanharam o início de sua carreira profissional no lendário bar Zicartola. Nascido em 1942, filho de um violonista do choro, freqüentador da escola de samba Unidos do Jacarepaguá na adolescência e depois apaixonado pela Portela, foi apresentado a Cartola pelo mesmo Hermínio, que depois se tornaria parceiro de tantas canções. Começou sua trajetória fazendo parte do conjunto que acompanhava os nomes consagrados do bar; suas composições fizeram sucesso, e ele teve que superar a conhecida timidez para poder interpretá-las. Depois, apresentou-se no espetáculo Rosa de Ouro, com a revelação sexagenária Clementina de Jesus, e fez parte do grupo Roda de Samba, com Zé Kéti e o também novato Elton Medeiros.

"Foi um Rio que Passou em Minha Vida" faz parte do disco homônimo, lançado em 1970. Esse álbum foi decisivo para que o estilo interpretativo de Paulinho tomasse a feição que conhecemos até hoje. Em vez da grande orquestração de cordas que aparecia no disco-solo anterior, o compositor empregava poucos instrumentos, minimalismo nos arranjos, um pano de fundo compatível com o toque do seu violão e com a doçura da sua voz, que também não tem a potência necessária para segurar um samba com percussão muito pronunciada. Sem ser bossa-nova, Paulinho da Viola fez seu samba delicado.


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Fonte: Revista Bravo - 100 Canções Essenciais da Música Popular Brasileira
Colaboração: Fabio Eça.



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