9 de fev. de 2010

As Bodas do Axé




Entrevista com Hagamenon Brito, por Tádzio França

Antes da amada e igualmente odiado axé music, havia o samba-reggae. Uma manifestação da música de rua baiana que fundia ritmos nordestinos, caribenhos e africanos com uma pitada pop. É considerado marco zero do gênero o disco “Magia”, de Luiz Caldas, lançado em 1985. O que começou como uma despretensiosa trilha sonora para os carnavais baianos foi estendendo e ultrapassando suas fronteiras, até se incorporar de vez à música popular, gerando estrelas populares, influenciando festas e todo um mercado de consumo sonoro – vestido com seu devido abadá. Lá se vão oficialmente 25 anos, e no meio desse processo estava o jornalista baiano Hagamenon Brito que, num momento de deboche resolveu nomear aquela cena crescente de “axé music”.

A brincadeira acabou por denominar todo um segmento de música nova produzida na Bahia. “Na verdade, o termo axé music foi criado originalmente para designar uma cena musical e não um gênero. Em 1987, quando eu era crítico musical do jornal A Tarde, comecei a usar a expressão de modo pejorativo, brincando com a pretensão de artistas regionais que sonhavam fazer sucesso até no exterior”, conta o jornalista à TRIBUNA DO NORTE, da redação do Correio da Bahia, Salvador. Nem ele esperava que o chiste acabaria por se tornar uma marca. Passadas quase três décadas, o gênero continua ativo mesmo entre os inevitáveis altos e baixos. Micaretas continuam sendo feitas ao redor do Brasil e artistas baianos emplacam músicas nas rádios e televisões, sendo tratados como popstars. Ao VIVER, Hagamenon fala sobre o estado recente do gênero musical que, apesar de não ser seu favorito em particular, ele ajudou a nomear. Com a palavra, o “inventor” do (nome) axé music:

TN - Como anda a saúde recente do axé music? Ainda se produz bastante, como no passado?
Hagamenon Brito - No final dos anos 90 e nos primeiros anos da era 2000, a pirataria fez um grande estrago na cena, mas o axé music já havia exportado um modelo de festas - carnavais/micaretas com blocos pagos - para todo o país e, mesmo não produzindo mais artistas e bandas como antigamente, sobreviveu no showbiz e ainda teve a sorte de gerar uma estrela como Ivete Sangalo. O maior problema atual é a não renovação - artistas como Bell Marques (Chiclete) e Durval Lellys (Asa) são tiozinhos, assim como Daniela Mercury...

Como surgiu o termo que designou o gênero?
Na verdade, o termo axé music foi criado originalmente para designar uma cena musical e não um gênero. Em 1987, quando eu era crítico musical do jornal A Tarde, comecei a usar a expressa de modo pejorativo, brincando com a pretensão de artistas regionais que sonhavam fazer sucesso até no exterior (por isso, o sufixo inglês music associado ao termo axé, que era como nós, roqueiros baianos dos anos 80, chamávamos o visual e o som brega carnavalesco de artistas como Luiz Caldas e Sarajane). Inicialmente rejeitado em Salvador pelos artistas da cena, o termo passou a ser usado também pela mídia do Rio e de São Paulo e aí pegou geral.

Alguns artistas dessa cena se tornaram verdadeiros popstars nacionais, como Ivete e Cláudia Leitte. Eles são suficientes para manter a vida do gênero?
Precisa de um número maior de gente nova, como acontece no samba e no sertanejo pop.

Há algum tipo de sonoridade em alta no axé atual?
A novidade de Salvador hoje não está no axé music, mas no pagode de artistas como Leo Santana (Parangolé) e Márcio Victor (Psirico), que já fazem pagode (ou suingueira, como queira) com influências do hip hop.

Em uma entrevista recente a um site da cidade, Ricardo Chaves se disse desgostoso com a atual cena musical carnavalesca de Salvador. Pelo que você analisa daí, o que mudou? O baiano ainda brinca carnaval e é fiel aos seus artistas?
Ricardo Chaves não faz mais sucesso em Salvador há algum tempo. O Carnaval de Salvador virou uma indústria pop muito poderosa, uma vitrine que só encontra rival no Brasil no Sambódromo, do Rio. Claro que o baiano continua louco por carnaval, mas as coisas mudam mesmo para muitos artistas - e isso tem a ver também com as decisões e rumos que cada um toma.

Ainda há o mercantilismo selvagem dos blocos em Salvador? Eles “comandam” o carnaval, ou a folia se mantém independente disso?
Independentemente de qualquer coisa, o Carnaval que coloca mais de 2, 5 milhões de pessoas nas suas ruas e avenidas: isso diz tudo. Obviamente, acho que diminuiu o espaço para quem não sai em bloco, mas fazer o quê: a maioria gosta. Não sei quanto tempo essa satisfação vai durar, por que o Carnaval de hoje não é mesmo dos anos 80/90... E assim caminha a humanidade.

Quais os atuais artistas de destaque no axé? Há?
Os mesmos dos últimos anos: Chiclete, Asa, Carlinhos Brown (o maior compositor da cena), Daniela Mercury, Cláudia Leitte, Margareth Menezes, Saulo (Eva) e Manno Góes (Jammil).
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Fonte: Jornal Tribuna do Norte. Seção "Viver". 30/01/2010.

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