Renato Borghetti - La Casa del Chamame
Gaita de botão no Nordeste, gaita-ponto no Rio Grande do Sul ou acordeão diatônico, nome oficial. Seja como for a definição do instrumento, temos na nossa terra, para orgulho dos gaúchos, um dos maiores especialistas no assunto. Renato Borghetti, 47 anos, é referência quando se fala no instrumento, não só por sua reconhecida qualidade, mas por ter consagrado-se com a música instrumental, mesclando tradicionalismo e erudito em um Estado que privilegia cantores. Abre a gaita, Borghettinho!
O começo
Foi no CTG 35, ao lado do pai, o tradicionalista Rodi Borghetti, 79 anos, e da mãe, Alda Borghetti, 80 anos, que Renato Becker Borghetti ensaiou os seus primeiros passos. Rodi, ou Borghettão, como é conhecido, é hoje presidente do Instituto Gaúcho de Tradição e Folclore (Igtf), mas não toca instrumento algum.
– O folclore sempre esteve muito presente na família – comenta Borghettinho, que concedeu entrevista ao Diário no apartamento dos pais, no Bairro Bom Fim, onde morou até os
20 anos.
Aos 13, ele ganhou a sua primeira gaita-ponto, uma Hering de oito baixos:
– Quando comecei a fuçar, vi que saía som!
Sogro cauteloso
Quando não está viajando, Borghettinho tenta acompanhar de perto a rotina dos cinco filhos. Cátia, 27 anos, Emily, 21, Pedro, 15, e Nina, 10, são do seu primeiro casamento, com a professora de dança Cadica Borghetti. A pequena Dora, três anos, é da união com a atual companheira, Ingrid.
– Tento participar dos mais variados programas deles - garante o músico.
Um deles, Pedro, já desperta a atenção dos fãs em alguns shows ao lado do pai, como percussionista. Desde pequeno, o guri mostrava gosto pelos instrumentos.
Cátia e Emily, por sua vez, seguem os passos da mãe. Se o Borghetti sogro é ciumento? Ele dá um sorriso e corrige:
– Cauteloso!
Não é para qualquer um
A primeira gravação de disco profissional foi em março de 1982. No 1º Rodeio de Gaita-Ponto, em Caxias do Sul, Borghetti tocou a canção "O Sem-Vergonha", de Edson Dutra e de Walmir Pinheiro, e "Milonga Para as Missões", de Gilberto Monteiro. Os registros viraram um LP, que ele guarda na casa dos pais.
Porém, o estouro veio com o disco Gaita-Ponto, lançado em 1984. Foi o primeiro álbum de música instrumental brasileira a ganhar um disco de ouro, vendendo mais de 100 mil cópias em pouco mais de três meses.
– Desde o começo da minha carreira, conciliar música popular com música instrumental é um grande, mas prazeroso desafio. Busco o equilíbrio entre o universal e o regionalismo e não quero perder o regionalismo – afirma.
Só não pede para cantar
E por que Borghettinho não canta? A resposta é simples e direta:
– Se eu cantasse bem, adoraria. Como não canto bem, prefiro não arriscar – explica ele.
Novinho, mas com pinta de veterano
Em 1979, Borghetti teve a sua estreia de gala na 9ª Califórnia da Canção Nativa, em Uruguaiana. Na época, os críticos já se mostravam impressionados com o desempenho do guri, com apenas 17 anos. "Um solista que marcou definitivamente a sua passagem pela Califórnia", registrou o jornal Folha da Tarde.
Sobre a diferença que sente ao pisar no palco hoje e naquela época, a fera é humilde.
– Me sinto o mesmo, seja tocando no palco do CTG 35, na Califórnia ou na Europa – garante.
Em 1983, o gaiteiro venceu a Califórnia da Canção Nativa ao lado de César Passarinho, com a clássica canção "Guri".
A piazada agradece muito!
A menina dos olhos do gaiteiro é um projeto social pra lá de interessante! Com o apoio da Celulose Riograndense, Renato Borghetti mantém, na escola estadual Augusto Meyer, em Guaíba, a iniciativa Fábrica de Gaiteiros, que produz gaitas de oito baixos para uso dos futuros músicos.
O curso é ministrado pela professora Cleonice Nobre e beneficia cerca de 40 estudantes. Durante a semana, o próprio Borghetti coloca a mão na massa por lá.
– É uma baita alegria proporcionar o acesso a um instrumento tão fascinante. Me dá muito prazer. As gaitas ficam à disposição dos piás, e o próximo passo será disponibilizá-las para os alunos levá-las para casa – diz, orgulhoso.
A primeira audição acontecerá no dia 2 de junho, às 19h, no galpão do colégio, com a participação de Borghetti. Será aberta ao público. É só levar 1kg de alimento não perecível.
Gaiteiro tipo exportação
No ano passado, Borghetti completou dez anos do que ele considera o seu marco na Europa - desde 2000, ele tornou-se atração frequente em festivais e em teatros do Velho Continente. Porém, sua estreia na Europa aconteceu bem antes, em 1987, em uma turnê na Alemanha. Na Áustria, onde faz shows desde 2000, a receptividade é das mais positivas.
– O pós-show é o mais legal! Explicamos que o Rio Grande do Sul é um outro Brasil, onde faz frio, neva. Eles têm a visão do Brasil tropical, do samba - comenta o músico.
Além de turnês pelo Velho Mundo, o gaiteiro gravou álbuns por lá, como Ao Vivo em Viena (2002), que trouxe registros de apresentações na Áustria - mesmo país onde foi lançado Gaúcho (2005), pelo selo vienense Quinton Records. As próximas turnês internacionais serão no México, em julho, na Europa, em agosto, e nos países nórdicos – Finlândia e Suécia - em fevereiro de 2012.
Até no Grammy
Um dos grandes momentos de Borghetti – e da música gaúcha – foi a sua indicação ao Grammy Latino, algo inédito na época, em 2005.
Ele concorreu na categoria Melhor Álbum de Música Regional ou de Raízes Brasileiras com o CD Gaitaponto.com (2004).
– Provou que o simples pode ser bonito, moderno e atual – avalia.
Quase tenista!
Nas horas de folga, entra o lado caseiro, na sua fazenda, em Barra do Ribeiro, onde fica recluso com a família. É por lá, também, que busca inspirações para novas composições.
Borghetti revelou ao Diário Gaúcho o seu atual hobby: tênis. Sempre que pode, dá suas raquetadas e assiste, pela televisão, ao atual número 1 do país, Thomas Bellucci.
– Ele é muito bom! Por pouco, não ganhou do Djokovic (tenista sérvio, na semifinal Masters 1000 de Madri, na Espanha, em maio) - opina, todo entendido.
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Fonte: Texto do repórter José Augusto Barros; Seção Variedades do jornal Diário Gaúcho. Em: 27/05/2011.
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