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PM - Quando você lançou seu primeiro CD?
RB - Foi em novembro de 1996. Chama "Renato Braz", feito pela Atração. Depois veio o "História Antiga", também da Atração, em 1998, que tem arranjos do Dori Caymmi. E agora vai sair o terceiro, muito provavelmente no início de janeiro, chamado "Outro Quilombo", pela mesma gravadora.
PM - Você disse que participou de festivais?
RB - Eu fiz isso mais na adolescência, mais para experimentar. E o engraçado é que participei como compositor e ganhei num festival de um colégio em Carapicuiba.
PM - Você ainda traz essa música com você, em repertório?
RB - Não, isso ficou lá...
PM - Você tem trabalho também como compositor?
RB - Tem algumas coisas, mas nunca terminei nada. Eu sempre acho que tem alguma coisa que eu não coloquei ali ainda. Mas o meu instrumento é a voz mesmo, a interpretação.
PM - Falando em festival, eu li em algum lugar que você não quis participar do Festival da Música Brasileira, da Rede Globo, ano passado?
RB - Eu fui convidado por várias pessoas para participar como intérprete do Festival da Globo, mas eu acho difícil cantar uma coisa que eu não tenha intimidade. É muito complicado para mim. Eu quero me emocionar, me entregar. O que me foi oferecido para cantar no festival eu não colocaria no meu disco. São coisas que eu não achei que fossem legais mesmo. Eu gostaria de estar fazendo aquilo de coração. Por exemplo, pegar uma música dessas do Mário Gil, que eu gosto, e cantar isso de cor, gostando.
PM - Aliás, o Mário Gil é um músico super constante no seu trabalho. Como vocês se conheceram?
RB - Eu conheci o Mário há uns 13 anos ou mais, tocando na noite, em bares. Esse último trabalho estou gravando no estúdio dele.
PM - Desde o primeiro disco você canta coisas dele?
RB - Desde o primeiro disco dele. Porque o primeiro disco que nós fizemos foi o dele, o "Luz do Cais". Depois fizemos o primeiro meu, o dele novamente e são vários discos já feitos. Mas o primeiro disco que eu gravei foi o dele mesmo. De certa forma, a gente vem aí caminhando junto. Estou sempre cantando o repertório dele.
PM - Como você lida com essa história de fazer shows? Você disse que é um pouco tímido. Quando lança CD é um bom motivo?
RB - Esse é um motivo bom para se fazer um show. Já fiz alguns trabalhos sem o disco, como um de acalantos, recolhendo algumas músicas desse gênero, e foi muito legal. Mas acho bem interessante apresentar um trabalho novo com as pessoas que o fizeram comigo, ajudaram a arranjar, elaborar o disco. O primeiro CD tem isso de arranjos coletivos, todo mundo criando. Essa coisa que te falei do bar, de levar isso um pouco para o estúdio. Eu sei pouco de música, o Mário sabe mais, de escrever e tudo mais. Juntar todas essas coisas e fazer, levar para o disco. O primeiro tem muito disso, o segundo já não, porque tem os arranjados do Dori Caymmi. Agora, o terceiro volta um pouco essa história, de estar todo mundo arranjando, esse jeito coletivo de compor.
PM - Como foi essa aproximação com o Dori Caymmi?
RB - Eu fui conhecer as músicas do Dori só lá pelos 20 anos. Pelo menos identificando as músicas como sendo dele. Afinal tem muita coisa que a gente conhece sem saber quem é o compositor. Inclusive foi o Mário quem me mostrou as coisas do Dori. Pô, me apaixonei. Adorei as músicas. Até que um dia eu fui a um show dele para entregar o meu primeiro disco. Eu estava tremendo, morrendo de medo. Nem conhecia o cara e tinha gravado duas músicas dele no CD. E eu nem tinha conferido a harmonia para gravar as músicas, tinha aprendido tudo de ouvido. E ele depois disse que ouviu e gostou. Logo depois, o convidei para fazer os arranjos do disco, de algumas músicas do segundo disco. Foi aí que a gente se conheceu mesmo.
PM - Nesse seu próximo trabalho, o "Outro Quilombo", que está para sair, qual é a idéia, a proposta dele?
RB - Eu vejo como uma seqüência dos outros trabalhos. Com relação aos arranjos e a direção musical, de certo modo voltei um pouco com a idéia do primeiro CD, onde eu faço os arranjos junto com os amigos, com todo mundo colaborando.
PM - A direção musical é sua também?
RB - A direção musical é minha. É um pouco mais confortável, talvez, até porque trabalhamos com músicos como o Teco Cardoso, o Proveta, o Mário Gil, o Sizão Machado, pessoas muito criativas. Vira uma coisa boa, sabe? Como se estivéssemos num quintal brincando e cada um contribuindo com uma coisa, todo mundo dizendo o que acha e tal. É um pouco mais demorado, mas é mais prazeroso para todos.
PM - Como você escolhe as música para o CD?
RB - Tem músicas aí que eu já tinha resolvido gravar há uns dez anos e gravei. Mas também tem outros casos como uma música inédita do Chico César e do Paquito.
PM - Qual é?
RB - Chama-se Crença. Eu tinha falado para eles que estava gravando um disco. Tinha até uma música, de muito tempo atrás, que o Chico havia me mostrado e eu pedi para ele mostrar novamente já que ninguém tinha gravado. Mas entre as músicas que ele mostrou Crença era uma nova. Assim que escutei, disse que ela já estava no repertório do CD. Romântica, bem do jeito que eu gosto.
PM - De quem mais tem música?
RB - Tem uma música do Jean e Paulo Garfunkel, que também eu conheço há bastante tempo e já cantava. Chama-se Cruzeiro do Sul. Tem Beatriz, do Chico Buarque e Edu Lobo, que eu queria gravar há muito tempo. No final do ano passado, teve um especial de Natal sobre o Edu Lobo na TV, e o Edu me convidou para cantar Beatriz. Eram vários artistas interpretando as músicas do Grande Circo Místico. Ao vivo, gravado no Via Funchal. Mas foi gravado num disco promocional, acho que de um banco.
PM - De modo geral, embora você já tenha citado algumas pessoas, quais são os músicos que estão te interessando, como o Carlinhos Brown, que você já comentou?
RB - O Dori é um, o Edu mesmo tem muita coisa que eu canto e gosto muito. O Tim Maia, que já é há muito tempo e será para sempre. Mas desses novos compositores eu gosto muito mesmo do Carlinhos Brown. O Arnaldo Antunes também é bem legal.
PM - Para muita gente, o seu canto remete a Milton Nascimento. Ele também foi uma influência para você?
RB - Do canto, talvez seja a minha maior influência. Aprendi muita coisa escutando as suas interpretações. Já fui a muitos shows e tenho vários discos. Um dos shows ao vivo que eu mais gostei, uma perfeição, foi o Planeta Blue na Estrada do Sol. Eu nunca vi ninguém cantar daquele jeito ao vivo.
PM - Mais ou menos quando foi, você lembra?
RB - Eu tenho até o ingresso aí, mas eu não lembro não. Acho que lá por 1990, 94, não sei direito. Foi gravado no Cultura Artística. Claro, já conhecia muita coisa dele, já tinha o Geraes, os dois Clube da Esquina, 1 e 2, enfim, conhecia muito o trabalho do Milton.
PM - Por falar em coisas marcantes, teve algum momento na sua carreira que você destaca como mais marcante?
RB - Puxa, acho isso muito difícil. São vários. Na verdade eu procuro isso, então, sempre vivi momentos muito especiais. Mas uma vez fui atuar como produtor num show do Dori Caymmi...
PM - Você foi produtor também?
RB - É, nesse caso, sim. Foi um show que o Dori foi fazer num teatro em Natal. Até quase pintou uma situação engraçada, porque eu percebi que iriam colocar um microfone para que o Dori me chamasse no meio do show. Puxa, não dava, eu estava ali numa outra situação, não estava preparado para cantar junto com ele num show dele, teria vergonha, coisa de fã mesmo. Fui ao camarim e pedi por favor para ele não me chamar. Ele disse que se eu estava pedindo ele não iria chamar. Mas durante o show ele dedicou uma música para mim.
PM - Qual foi a música?
RB - Se Todos Fossem Iguais a Você. Não sei se é um momento importante da carreira...
PM - Mas é, no mínimo, uma grande homenagem. Obrigado pela entrevista.
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