Cantora Tiê lança álbum e critica rótulo Novos Paulistas
Por: Marcus Preto, de São Paulo
Quando, em 2009, a cantora paulistana Tiê estreou com Sweet Jardim, ninguém poderia imaginar as funções extraordinárias que o álbum acabaria cumprindo, sem se dar conta do que fazia.
Ao mesmo tempo em que embalavam corações tristonhos, aquelas baladas melancólicas, acompanhadas quase sempre pelo violão precário e sincero da própria compositora, acabaram por abrir portas, quebrar preconceitos, romper fronteiras.
"Sweet Jardim" levou a voz de Tiê para fora do circuito independente de São Paulo --sobretudo para os quintais cariocas, que nunca foram grandes simpatizantes da estranheza sombria da música "made in Sampa".
Uma vez aberta essa porta, entraram por ela, logo na sequência, seus colegas de cena: Thiago Pethit, Marcelo Jeneci, Tulipa, Leo Cavalcanti.
Isso tudo torna ainda mais esperado o lançamento deste A Coruja e o Coração, seu segundo trabalho, que chega às lojas nos próximos dias.
As baladas confessionais, marcas registradas da autora, estão de volta --mas quase nunca com a antiga embalagem "cheia de vazios".
"São os mesmos assuntos de antes: cotidiano e amor. Mas o disco ficou mais colorido", diz. "O banjo deu um leve tom country. E a bateria, que eu não usava no primeiro disco, trouxe a leveza."
A produção musical, mais uma vez, ficou aos cuidados do carioca Plinio Profeta.
E se em Sweet Jardim eram só Profeta e Tiê tocando todos os instrumentos, aqui o time se amplia. Da "turma", entram a bateria de Naná Rizzini, o violão de Hélio Flanders (Vanguart), a sanfona de Jeneci, os vocais de Tulipa e Karina Zeviani.
"Mas não fiquei só na panela", ela se defende. "Também chamamos o James Muller, [da banda Funk como le Gusta], o [uruguaio] Jorge Drexler e até o [compositor potiguar] Dorgival Dantas."
Este último entra apenas como compositor, por meio de seu hit "Você Não Vale Nada", transformada em flamenco pelo violão de Emiliano Castro. As outras duas regravações são "Mapa-Múndi", de Pethit, e "Só Sei Dançar com Você", de Tulipa.
Ainda que fique evidente a sólida conexão entre Tiê e seus colegas de cena, a cantora rejeita o rótulo Novos Paulistas, usado para enquadrar essa geração emergente de músicos da cidade.
"Isso não foi uma coisa feliz", diz. "Foi um nome que uma produtora inventou para vender shows para o Sesc, e, de repente, a gente estava numa sinuca de bico. Criou uma coisa superantipática."
O selo Novos Paulistas, ela diz, sugere um movimento musical. Ou um grupo com a mesma estética, como os Novos Baianos. Não é o caso. "Aqui, todo mundo é bem diferente um do outro. Mesmo que a gente ande junto, toque junto e cresça junto."
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Fonte: Folha de São Paulo: "Ilustrada". Em 09/03/2011 - 09h57.
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