Tom Jobim e Miúcha - Samba do Avião
Nunca foi segredo que, durante toda a vida, Tom Jobim morreu de medo de avião. Tinha verdadeiro pavor cada vez que entrava em uma aeronave, mesmo que fosse para fazer uma viagem rápida, dentro do Brasil. Em sua primeira viagem a Nova York (para cantar no famoso concerto da bossa nova no Carnegie Hall), por exemplo, não foram poucas as tentativas de desistir do vôo.
Quem narra o episódio são Jairo Severiano e Zuza Homem de Melllo, no livro A Canção no Tempo – 85 anos de Músicas Brasileiras. A letra da música é bem essa. Ainda que ele diga que “este samba é só porque, Rio, eu gosto de você”, que “a morena vai sambar, seu corpo todo balançar”, no “Rio de sol, de céu, de mar”, a verdade é que, provavelmente, mais do que a alegria de voltar à Cidade Maravilhosa, o autor sentia um grande alívio, depois de horas de tortura dentro da aeronave, ao saber que “dentro de mais um minuto estaremos no Galeão”.
O convite para que os maiores nomes da recém-nascida bossa nova, cantores, compositores e instrumentistas, tocassem no Carnegie Hall, templo dos maiores músicos da história recente, veio em setembro de 1962. O anúncio foi feito, com a devida pompa, em um coquetel no hotel Copacabana Palace, no Rio de Janeiro. Diz Sérgio Cabral que a notícia foi recebida com afobamento pelos artistas brasileiros, a ponto de o Itamaraty comprar as passagens. Mas não por Tom, que só aceitou o convite após muita insistência dos amigos. “Nunca saí do Brasil até os 36 anos”, contou Tom em depoimento a Zuza Homem de Mello. Não que faltassem oportunidades. Depois que Orfeu Negro (1959), filme de Marcel Camus baseado em Orfeu da Conceição, de Tom e Vinícius, foi premiado com a Palma de Ouro em Cannes, o compositor recebeu inúmeros convites, recusando todos. “Mas em 1962 nós fomos mandados para o Carnegie Hall. Eu tentei não ir, João tentou não ir, mas tínhamos que ir”, contou Tom. Samba do Avião foi gravada em 1962 pelo grupo Os Cariocas. No ano seguinte, em 1963, a canção compôs o repertório do disco The Composer of Desafinado Plays, de Tom, pela gravadora Verve.
Com sua bossa carinhosa sobre o Rio de Janeiro, Tom Jobim descreveu como poucos as belas paisagens da cidade, desde “o Corcovado Redentor, que lindo” até as curvas da “garota de Ipanema”. Samba do Avião funde a sensação que o compositor tinha ao voar com a emoção de reencontrar a beleza da cidade natal. Façanha que levou o poder público a acrescentar seu nome ao do Aeroporto do Galeão, após a sua morte, em 1994. “Aperte o cinto, vamos chegar/ Água brilhando, olha a pista chegando? E vamos nós/ Aterrar...
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Fonte: Revista Bravo - 100 Canções Essenciais da Música Popular Brasileira
Colaboração: Fabio Eça.
Colaboração: Fabio Eça.
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